quinta-feira, 13 de novembro de 2014

1/4


Haveria um quarto meu em cada canto
Toda vez que eu me encontrasse em desencanto
E quisesse meus sonhos e devaneios na palma da mão

Haveria, ainda, um quarto de mim em cada esquina
Toda vez que eu me esquecesse nas poeiras infindas de um porão

E andando pelas ruas, eu poderia me perder
E no próximo quarteirão me acharia
Com a cabeça ainda quente, em noite fria
E as manchas vermelhas de amor pelo chão

Mas um quarto de mim num quarto meu ventilado,
Teria um pedaço teu de silêncio apaixonado:
Um querer inteiro e vivo, 
O amor mora ao lado [...]
Um quarteirão inteiro de verdade e solidão

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Flamboyant


(Para minha mãe, apaixonada por essa árvore linda)

Tuas folhas recortadas parecem flutuar pelos ares
Tuas entrelinhas desenham o céu de amanhã
Teu florescer traz vida e paz aos olhares
Tuas flores, vastas, pintam os dias com cor de romã.
Se fores simples e linda por onde passares,
Tens abundância de mãe e Canaã.
Se te destacas, pequena, entre os palmares,
És verde-vermelho, és árvore-mãe, és Flamboyant.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Sorrir


Toda vida que a si trai enlouquece
Todo dia em que se cai desvanece
Toda noite que se vai amanhece.
Por isso sorrir,
Porque viver à margem da vida torna o mundo fatal,
Porque nascer pra todos faz do sol universal
Porque tocar o silêncio faz da paz imortal.
Se eu toco o silêncio,
Se eu sinto, se eu vivo, se eu penso,
Repenso,
Reconheço,
Relento,
Refluxo,
Reinvento,
É porque amanheço.
Por isso sorrir,
Porque meus versos são feitos de alvoradas intensas
Porque não há sonho que termine antes de ser vivido
Porque não há riso que acabe sem ser sentido.
Toda vida que a si trai enlouquece
Todo dia em que se cai desvanece
Todo riso que atrai me enobrece.
Por isso sorrir!
Porque não há sonho que termine antes de ser buscado
Porque não há vida sem que haja outra vida ao lado
Porque não há brilho que acabe num sorriso apaixonado.
Se eu rio, sorrio, sou rio,
É porque amanheço.
Toda vida que a si trai enlouquece
Todo dia em que se cai desvanece
Todo verso que distrai permanece.

Daniela Dino

Ouro Lunar

(A lua e o dia de hoje trouxeram, além de brilho, inspiração!)
Queria roubar a lua
Mas ela me roubou de mim
Me fez brilhante como ela brilha
Enquanto escutava a trilha
Que invadia minha luz com seu clarão de luar
De repente, eu não era mais eu
Era lua.
Era o céu estrelado nessa noite tão crua
Nesse tempo tão claro de sorrisos no ar
- Prendi a respiração
Perdi meu coração
Me levaste sem sair do lugar
Roubei tua energia
Fiz do céu minha alegria
Quis cobrir-me de ouro lunar

Daniela Dino

terça-feira, 2 de setembro de 2014

O sertão e a paz

Quanto custa a paz?
Me diz aí, homi, que eu quero comprar!
Eu vim de lá do Sertão do Nordeste
Ô Cabra da peste!
Esse cerrado tá seco pra daná!
Quanto custa uma gota d'água?
Tem um cerrado no meu coração!
Mas se a secura que aqui ecoa fosse minha
Teria uma coisa que a Chica num tinha:
Um desamor pela dor do Sertão.
Quanto custa o barulho do silêncio?
Esse daí deve ser os zóio da cara
Tá difícil demais encontrar!
Me leva daqui desse deserto, Pau de arara,
Deixa eu voar solta feito Carcará.
Quanto custa o ar puro e úmido?
Aquele lá com gosto de terra molhada...
De rede no fim de tarde na casa de taipa mal acabada...
Aquela simplicidade quieta e um bocado arretada.
Quanto custa a primavera nessa seca braba?
Tanto amor cum perfume de flor bonita
Tanto rio cum potencial de água infinita
Tanta poeira que inté atrapáia as vista e num acaba.
Quanto custa o sol no escuro desse deserto?
Tudo aqui dentro, mesmo longe, tão perto!
É tanta tempestade na secura desse clima
Tanta alvorada que coloca nós pra cima
Tanta seca nesse chão de tanto amor quase sem rima.
Quanto custa a paz?
Me diz aí, homi, que eu vou aculá buscar!


Daniela Dino

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Abraço de pai


Quando te abraço, floresço
Desabrocho em sabedoria
Enriqueço com teu amor sem preço.
Quando te abraço, me esqueço
Me perco em teu colo tão grande
E nino como ainda criança no berço.
Quando te abraço, meu apreço,
Faço de mim teu passarinho
Que voa e volta pro ovomaltine com leite ninho
Que morre de amor com teu carinho
Que do teu ninho sempre sabe o endereço.
Quando te abraço, meu pai, eu cresço
Sou metade tua, metade minha, metade mãe,
E de amor hei de ser sempre três terços.

terça-feira, 22 de julho de 2014

FAU - UnB


Ainda nos olhos, os medos que tinha

A covardia e teimosias tão minhas
As noites em claro contando os ladrilhos do Icc

Ainda nos olhos, os conflitos internos
Os silêncios e barulhos externos
As noites em claro contando os dias pra UnB

Ainda nos olhos, o estudo que faz tudo
Os dias de caos e ruído mudo
As noites em claro sem saber como fazer.

Ainda nos olhos, um desejo de auto-respeito
Um querer o melhor pra mim, sem o menor preconceito,
As noites em claro fazendo acontecer

Ainda nos olhos, conquistas realizadas, por ora, no sorriso, no falar,
No peito que bate orgulhoso, sensato, sem parar de palpitar,
No calafrio que persiste,
Nas lágrimas que ainda saltam aos olhares,
Nas brincadeiras,
Nas fotos reveladas da alegria que insiste
No brilho intenso do saber se amar

Ainda nos olhos, os sonhos e planos traçados
Os desejos e sorrisos apaixonados
As noites em claro rimando o meu querer e o meu "incessar".

Eis que um dia não sou mais sonho
Tampouco noites em claro refletidas em cristalinos do olhar.
Sou poesia em forma de alegria
Sou teu gosto de libertinagem ao luz do dia
Sou os pontos de fuga e de ternura
Sou o pé direito único da Faculdade de Arquitetura
Rima presente, também futura:
Metade amor, metade poeta.
Inteira amante; um dia arquiteta.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Quero-quero


Eu te quero
Com o calor de um refrão de um bolero
Pra fazermos samba até de manhã

Te espero
Com o canto sutil de que te quero
Pra fazeres, de mim, teu mel, eu, de ti, meu sabor doce de romã

Te enveneno, te venero
Com meu olhar cigano, rude e sincero
Pra ser tua prometida Terra de Canaã

Te enalteço, te exagero
Com esse pertinente amor austero
Pra ser teu hoje, teu abismo, teu Quero-quero de amanhã.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Outono-inverno




Esperam o frio do inverno as plantas semi-mortas ao relento
Tudo passa
Exceto o tempo de florir
- Eis o tempo seco do cerrado; úmido de tantos e tontos sorrisos meus.

Daniela Dino

REVIVER - São Luís

São Luís, onde foi parar teu cheiro de terra molhada?
Onde foram parar teus becos e ruas de sobrados lisboetas?
Onde foram parar tua maresia, tua cor, tua vida?

Agora deste pra andar alagada por todos os cantos
Carros atropelando o tempo de quem corre contra o tempo todos os dias

A serpente que te assombra hoje, e há tanto tempo, eu diria
Tem nome e sobrenome
Tem casa, tem saúde, não passa fome.
Tem resquícios vivos de oligarquia.

São Luís, onde foi parar tua sanidade?
Onde foi parar tua poesia?
Onde foram parar os Leões tão bravamente fiéis, agora corrompidos, de teu palácio?

Agora deste pra ser terra improdutiva
Te falta amor, te falta água, te falta compaixão

A serpente que ronda teu subterrâneo já sugou todo o teu suor árduo de mais de 4 séculos de história
Ou 50 anos de solidão
Contamina teu solo
Circunda toda ilha com o objetivo central de sua cabeça:
Afundar a Jamaica Brasileira

Isolada, és Ilha do amor
Esquecida, és Ilha do amor
Abandonada, és Ilha do amor!

São Luís, onde foram parar os escritos de teu Gullar?
Onde foi parar teu magnetismo?
Onde foram parar teus sonhos, tua beleza tão pura, tua simplicidade tão exorbitante?

A serpente que corre por tuas esquinas
Não pode sugar teu sangue
Não pode sugar tua alma
Não pode sugar tua intrínseca, tímida, escondida vontade de ser Praia Grande
Tua saudade de ser Ilha do Amor
Tua necessidade de se(r) REVIVER

Daniela Dino
-
A minha cidade amada, que precisa de cuidados, de administração, de saúde, de segurança pública, de saneamento básico, de água, de comida. A minha cidade amada, tão bela, tão rica, tão fértil. A minha cidade amada, que representa todo um estado dilacerado, minha saudade, meu amor, meu desejo de REVIVER!
 

Céu e (a)mar



Céu e (a)mar


Sendo céu ou mar
Queria poder te ter todo meu
E, sozinha, ser só tua
Afogar minhas mágoas nas tuas ondas
Contar meus sorrisos nas tuas tantas estrelas-do-mar

Queria saber esquecer meu egoísmo de querer-te só pra mim
Entender que tua beleza é ser universo
Manter-se singular no plural e no verso
E saber ser apenas meu no meu olhar

Nos outros tantos olhos que te querem
Sabes ser minha alvorada
Meu eu externo,
Meu céu eterno
Minha cura quieta da paz armada

Tens um contraste que me faz te (a)mar:
Sabes ter cor e ser escuro
Sabes trazer impurezas e ar puro
Sabes ser meu abismo, meu desgaste, meu sorriso
Meu infinito terreamente particular

Daniela Dino

Oração ao Pai II

Me ilumina, Pai
Que eu, tão pequena, quero tua luz
Que eu floresça enquanto cresce em mim
A vontade de ser ser pássaro
E desse tanto (vo)ar que me seduz

Me ilumina, Pai
Que eu quero ser luz que ilumina a Terra
Queria ter luz pra tirar a fome do mundo;
Aquecer o frio;
Acabar com a guerra.

Me ilumina, Pai
Que eu quero ser fonte de água e viveres
Quero ser parte dessa libertinagem
Quero vertigem de felicidade
Quero vestígios de tantos quereres

Me ilumina, Pai
Que eu quero tua luz
Quero teus passos,
teus caminhos, teus traços
Tua proteção que me guia,
Teu querer que me conduz

Daniela Dino

Mãe


Ser mãe é ser flor
Ser filho é ser fruto
Ser mãe é ter cheiro de jardins,
roseirais,
canteiros coloridos,
em cantos de ruas floridos,
em perfumes de frascos vitais.

Uns frascos são lírios
Símbolo da pureza e da Virgem Maria
Protegem com o perfume seus filhos
Enobrecem com amor o dia-a-dia

Outros frascos são Orquídeas
Grandiosas, mas simples
Florescem cheias de cor, fascínio e sabedoria.
Em família, orquidários, dão mais vida ao dia-a-dia

Há, também, os frascos de Angélica
"Anjo e flor juntamente"
A mais perfumada em visão de vida coerente
A mais flor dos perfumes em harmonia
A mais mãe [mesmo antes do fruto ser gente]
A mais anjo/protetora do dia-a-dia

Agora, os frascos de Tulipa
De apelido "Amor Perfeito"
As mais admiradas no mundo
- Quem diria!
Cores resultantes de um feito bem feito
De um amor pelos filhos, que bate forte no peito,
De uma singularidade encantadora no dia-a-dia

Por fim, os frascos de Rosa
A flor-mãe, a flor-rainha
As mais sensíveis, cuidadoras
Protetoras dos espinhos da vida.
Cheiro de mãe, de avó, de tia
Flor com gosto de amor,
Com cheiro de cafuné,
Com presença [mesmo que ausente] no dia-a-dia

Daniela Dino
--

A minha mãe é um pouco de cada flor, e um muito de todos os frascos perfumados do mundo. Feliz por poder ser fruto de um frasco tão maravilhoso! Feliz por poder ser, um dia, também flor. Feliz por ter em mim a semente de cada uma dessas flores na foto. Tenho várias mães. Mas duas são únicas: a boa Mãe Maria e minha Rosa Sandra Dino, meu Flamboyant, erquido e florido, de todos os "dia-a-dia."

Relato de uma menina de 12 anos

Mal pude ver de onde vinha aquela escuridão
Apenas fechei os olhos
(Como se pudesse dormir)
E senti arder a pele e doer a alma

Vi que os chutes eram covardes
Mas a covardia maior estava nos olhos, 
nas risadas, 
nos cantos de boca sujos, como o meu:
Em mim, escorria sangue
Nos seus sorrisos, tão ousados, veneno.

Vi as luzes dos carros passando
E, ainda frágil, lembrei de minha mãe cantando pra eu dormir à meia luz de um quarto vazio

[...]

A dor continuava.

Puxavam meu cabelo como se fosse um pedaço de pão
Mas ali não havia fome de comida.
Havia fome de vida.
Eu calada, querendo um gole de bebida
Minha alma gritando, querendo calar minha ferida
Meus olhos,
ainda fechados,
Tentando, em vão,
por vezes chorando,
proteger meu coração.

Daniela Dino
-

Queria eu ter mais empatia pra conseguir relatar a cena que vi hoje. Me senti impotente (como poucas vezes me senti na vida). Vindo pra casa, vejo um grupo de 10 meninos e meninas, de aproximadamente 13 anos, batendo numa menina de uns 11 anos. Fiquei sem reação. Tentei ligar pra polícia, não consegui. Tentei ligar pra um amigo policial, também não consegui. E permaneci impotente, na inércia, sem saber o que fazer. Cenas como essa são cada vez mais frequentes na sociedade atual, mas, de fato, não podemos fechar os olhos pra isso como se nada tivesse acontecendo, como se fosse natural uma menina gritando, sozinha, com outros tantos meninos e meninas, covardes, puxando seu cabelo, a jogando no chão, chutando suas pernas... Acho que me senti mais impotente que a própria menina, porém, com certeza, não mais frágil, nem mais sozinha. Queria ter conseguido ajudá-la, mas falhei, travei, não soube como. Mas peço as energias e orações de vocês pra que essas pessoas vítimas de violência (em todas suas diversas formas) sejam iluminadas e protegidas nos seus dias. Peço do fundo do meu coração.

Quando a saudade é silêncio

[mais uma de Joana]

O mais difícil do meu silêncio
É não te ouvir
Ou então a saudade que engulo seca
De tua voz trêmula
Coberta 
[eu, descoberta] 
Com sorriso blasé.

Mas meu silêncio ind'é inquieto
Tem vazio de concreto
E um som que ecoa e faz meu sorriso se manter.

Acho que meu silêncio é maior do que o amor pelo qual eu clamo
Tenho ouvido músicas, pássaros, pessoas
Mas tenho sentido falta:
E é desse silêncio que tanto reclamo.
Ainda que eu saiba que teu amor 'inda é meu
E ainda que sejamos Joana, Julieta e Romeu
Tenho silêncio de ouvir teu sorriso
Tenho silêncio de ouvir teu te amo.

Daniela Dino

Flor de Lis(boa)


Flor de Lis(boa)


Por entre sobrados e becos sem saída
Os azulejos portugueses dão vida à cidade
Pouco ouro, muita riqueza
E o cheiro de orvalho matinal no fim de tarde

Flor do lácio, és flor de lis
Tens o boa de terra fértil: inculta e bela
Lisboa, meu pedaço europeu de São Luís
Meu relicário de tinta fresca e aquarela

Casarões e paixões como Pessoa;
Cenário bucólico do fado farto dos fadistas
Ruas de pedras (desgastadas e saudosistas)
És um porto, um desporto, uma (lis)boa

És flor de lis,
Leal e soberana
E de corpo e alma tens pureza
És, ainda, minha fonte, minha origem, minha matriz
Meu (en)canto maranhense em terra firme portuguesa

Daniela Dino

Ao céu de Brasília

Dizem que és mar,
Imensidão,
Dá até pra ver, de longe, tuas ondas se formando,
Se quebrando em cores sinuosas nas tuas nuvens cristalinas

Cada linha com um pouco de espuma salina
E o vento levando as nuvens, como se correnteza fossem, por teus horizontes

E o que mais te faz mar é tua brisa
Que, embora, seca, se confunde com maresia:
Tens o mesmo dom de encantar,
O dom de fazer-me pensar nos mais belos dos poemas sobre (a)mar

- No mais colorido dos crepúsculos, aguardar por teu brilho estrelado,
Pela manhã, nos versos da alvorada,
[Amante-amor-amado]
novamente te encontrar.

Daniela Dino
-

Lúcio Costa, grande pensador do projeto urbanístico dessa cidade, dizia que "o céu é o mar de Brasília". Concordo plenamente. Mas acrescento: pra mim, o céu é o AMAR de Brasília, paixão de todos que aqui vivem, amor de todos que tem o prazer de ver e conviver com tamanha beleza

Ombros (des)cansados

Quando teus olhos se fecham
O dia corre por tuas artérias e veias
E teus ombros cansados funcionam como cadeias
Em que teus medos se aprisionam
e atacam tua paz.

No pés, já frios,
A última dormência antes de adormeceres
Nas mãos, dormentes,
A última frieza que impede teus quereres.

E o fundo dos olhos se abrem
Vão de encontro a ti.
E teus ombros cansados libertam teus medos
E teus pés, gelados, esquentam teus dedos
E tuas mãos, dormentes, acordam:

Seguram tua mente,
Aquecem teus sonhos
Descansam tua alma.

Daniela Dino

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Cor-lorido



Cor-lorido

Não tenho olhos pro preto e branco
Tampouco pro pranto brando da falta de cor
Tenho, na pele, a mistura das raças
Nos olhos, o contraste das classes
Na distinção, as feridas abertas ao ardor.

Não tenho olhos pro preto e branco
Também me falta paladar pra engolir a desigualdade.
E se meus sentidos perdem o gosto
Se não respiro o que me é imposto
Também se vai meu tato,
meu olfato,
meu resto, pouco, de sanidade.

Não tenho olhos pro preto e branco
E me falta, ainda, retina pra alcançar a dor do oprimido
No cristalino, os versos tingidos da alvorada
No piscar, a rima assídua, encantada
Por quem, na vida, só acha a cor no colorido.

Daniela Dino


A graça é a diversidade! A graça é a cor! A graça é a igualdade! E quem só enxerga cor no colorido, está preparado pra ver graça em tudo que há no mundo! Viva a cor! Viva a igualdade! Viva a vida!


quarta-feira, 26 de março de 2014

Samba da Alma

Queria ter o dom de fazer minha rima virar samba
Mas o samba já nasceu poesia
Fruto do quebrar do banjo e do pandeiro
Do gingado da mulata
Das avenidas de janeiro a janeiro.

Uns dizem que o samba é pra quem pode
Outros, com "ousadia e alegria",
que samba é a mesma coisa que pagode.

Mas não.

O samba, primeiro, é pra quem quer,
E a poesia do samba não se confunde,
Em vírgula alguma,
Com outro ritmo ou rima quaisquer.

O samba é coisa do morro,
Do povo, da gente, do mundo.
O samba pode ser de raiz
De gafieira, de roda
De aprendiz
Que será ainda, dos ritmos, o mais profundo

O meu samba não é de quadril
Nem de passo a passo
Meu samba é de fevereiro,
março,
abril.
Meu samba é samba de compasso

De dois a dois,

Num embaraço

Através

Da calma.

E há quem diga, ainda hoje,
que se samba com os pés

Meu corpo, um mero aprendiz,
já sentiu, na pele, que eu sambo com a alma.

Caminhos de luz

Atravessam rios
Sombrios
Vazios.
Caminhos de luz tardios
Caminhos de vento sadios
De corações vadios
E desalmados.
Atravessam rios calados
Por tempos amordaçados,
Por Putas, pobres e pães fiados.
São tardios, mas sadios,
de luz, confetes e alvedrios.
Caminhos de luz
são sempre do agora
Ainda que de dentro,
Ou mesmo a luz de fora.

Daniela Dino

Arquitetura

Algumas doses de dias e meio bêbada de tanta sede: O suficiente pra me fazer rimar essa vida que é a arquitetura.

No céu traçado - e trançando por nuvens,
Obscuras, gris e sutis
há arquitetura.

Na padaria das sete,
nas embalagens de confete,
ou num projeto de maquete.
Há no sorriso apaixonado,
num prédio abandonado,
ou num sonho alimentado.
Na esplanada,
Nas catedrais,
Nas danças.
Há arquitetura em tudo.
No olhar de um cego
No falar de um mudo.

Há arquitetura no meu olhar
No meu sonhar
No meu viver.
Pra amanhã
Pra agora
Pra mim
E pra você.

Fotografia em forma de poema

Guardo-te nos olhos
Numa lente qualquer de uma máquina ainda fotográfica
Tens um tanto de poesia
E um quanto de todo canto por onde andas.
Tens um manto de maresia
E um bando de campos floridos, de sóis esquecidos, de luas tímidas em céus tingidos.
Guardo-te em lentes embaçadas
Em caixas bagunçadas
Em molduras da época de retratos - dos antigos, sombreados por sombrinhas e estações de trem.
Tens um pouco de saudade
Um muito de cada momento também.
Um Q estonteante de lembranças
Outro calado de nostalgia
E inda outro moldado de bem.

Tens um pouco de tempo
Tuas cores preto e branca revelam teu relógio, marcado pelas falhas em tua falta de cor e teu excesso de tinta fresca no relicário
O tempo não passou.
Quando te olho vivo teus detalhes, teus momentos, teu passado
E, enquanto vivo, tiro outras fotografias pra lembrar-me como é poetizar-te no cristalino do meu olhar - um preto e branco mais colorido que o presente.

Daniela Dino

segunda-feira, 10 de março de 2014

Canção de Amor Gramatical

Amar não é verbo de ação
É verbo de ligação
Estado
Ou Predicativo do meu sujeito.
Amo-te no futuro do presente
Como amara ontem
No pretérito mais que perfeito.

Amo na linguagem culta, normativa
Amo no linguajar pobre
Mas rico em expressões conotativas

Amo no sotaque e na sua ausência
Na mistura das variações regionais
Na semântica, na sintaxe, na regência

Amo nos períodos simples e composto
Nas funções de linguagem
No vocativo e no aposto

Amor não é objeto de voz passiva
É objeto direto e indireto
De um período composto por dois sujeitos simples:
Agentes de voz ativa!

Amar não é verbo de ação.
Eu sou amar
Tu és amor
Uma relação de concordância
E não subordinação.

Amor é adjunto, advérbio, adjetivo
É pronome nominal, passivo, (passional)
É artigo definido,
Pro nome relativo
A essa canção de amor gramatical
 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Sobre aniversariar, 17/02

Eu gosto de fazer aniversário
Não é questão de número
Nem de idade
O gostoso é fingir que aquele dia é seu
[E que o sol nasceu mais bonito só porque você completa mais um ano de vida.]

Eu gosto é da rima doce do "parabéns pra você"
De comer bolo, brigadeiro
De poder ser tosca o dia inteiro
E receber todos os carinhos que eu merecer

Eu gosto de me arrumar pra receber os amigos
De reunir as pessoas que amo
E obrigá-las a dançarem pagode e arrocha comigo.

Eu gosto é de rir a toa,
De ouvir elogios, receber energias
E promover boca livre de muita comida boa.

Eu gosto é de receber carinho dos meus pais
Ser acordada ao som de violão
E esperar o próximo ano, com gostinho de quero mais

Eu gosto é de comemorar por mais um ano de vida
E saber que só falta mais um ano
Pra essa festa toda ser repetida

Eu gosto é de ser eu,
Essa mistura de alegria.
Sou um pouco de tudo
De todos
De arrocha
Futebol
Sonhos
E poesia.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

2 anos de Saudade

Marcelo, que saudade tua!
Saudade tanta que minha boca fica triste
De palavras e consolo
Saudade tanta que me tenho um querer tolo
De trazer-te de volta desse sono eterno que em ti existe

Marcelo, que vontade tua
Vontade tanta que meus sonhos se permeiam de ti
De teu riso e sossego
Vontade tanta de te dar um aconchego
Que não dei na última vez em que te vi

Marcelo, que querer-te insensato
Um querer que se contradiz
Em saber que estás em paz
Confortando o vazio de teus pais
Mas querer-te como nunca antes te quis

Marcelo, descansa e te cuida
Aqui, o mundo te ama voando
O vazio de alguns ainda precisa de ajuda
O coração se acalma te amando
A saudade, gritante, é muda.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Jo-sé-ana

(dessas histórias que se inventa no trânsito, no banho, na fila da padaria - A uma amiga apaixonada pela história de Joana)

Joana mudou de nome
[Seu coração agora bate em outro peito]
Sua saudade,
também calada,
Hoje morre de fome.

Ainda embriagada com fanta uva,
E ainda que seu amor fosse morto
- e se tornasse viuva,
Joana teria o peito torto.
Oco.
Moco.
Cansado de vazio e desconforto.

E ainda que a ponta cega da faca curva
Ferisse seus olhos
E a vista ficasse turva
Joana teria um peito calado
E, em outro peito,
Sobrevivendo (bravamente) ao leito,
Um coração alado,
VIVO,
Despedaçado.

E de ter asas,
Seu coração voa ao lado de aviões
(do forró, ou de tantas outras tripulações)
E voa alto
Onde o céu não pode alcançar
E voa veloz
"Voa mais do que minha voz"
E volta pro seu peito pra amar.

E, com final feliz,
Joana, triste,
Muda de nome
Antes, inteira,
Agora, metade,
É codinome.

Joana era Joana
Perdeu o Jô
Perdeu o sé
Agora é Ana.

Daniela Dino

Dia do Arquiteto, 15 de dezembro

Pausa na poesia para o dia do Arquiteto, 15 de dezembro de 2013


AINDA não sou arquiteta, mas compartilho do amor, da admiração, da paixão pelas curvas, pelo traço firme - reto ou curvilíneo; pelo conceito; pelos projetos e pela história embutida nos monumentos, em conjuntos arquitetônicos, em aspectos urbanistas e paisagistas das cidades. Os arquitetos são profissionais responsáveis pela harmonia do ambiente em que vivemos, que compreendem a sociedade e a natureza como um conjunto só, estudando seus detalhes, seus poréns, seus diversos ângulos (ponto de fuga, plano inclinado, planos de uma vida toda) e seus inúmeros desafios, encaixando todos os aspectos de ambas as partes e criando uma arte admirável, com gosto de criatividade e dedicação. Por tudo isso, parabenizo, no dia de hoje, o rei: Niemeyer, que hoje completaria 106 anos, e todos meus futuros excelentes colegas de profissão: Karina Serra, Ana Gabriela Braga, Genival Caetano, Bárbara Souza, Mariana Frota, Sarah Evelyn, Elisa Bermudez e Milena Panhol.

Efusão de amor

Amor sobrevivente aos cactos
Aos espinhos afiados
À secura
Ao sertão

Amor coerente aos atos
Aos momentos passados
À fervura
Ao coração

Amor intermitente, mesmo com os fatos
Com os tempos amordaçados
Com tentativas em vão

Amor, infelizmente, aos matos
Contrariados, sofridos, calados
Indo de frente à contra-mão.

Amor de olhar e de tato,
Que sente mais amor quando tocado
E invade o céu, o luar, o clarão

Amor, agora, não precisa de contato
A distância o deixa mais amado
Amor de verdade, bem mais que paixão

Amor de tempo imediato
De futuro, presente, passado
De tiro no escuro,
De paz,
De efusão.

Amor de hoje, de sempre
De outono - inverno - primavera - e - verão.

Daniela Dino

Dança em transe

Encaixam-se as pernas
Como cabeças quebradas em peças
Entrelaçam-se como tranças
E mãos dadas 
Ou trincos de portas trancadas
Ou tremores involuntários na dança

Olhos de ressaca
Buracos semi-abertos
Suor escorrendo pelo corpo

Entrelaçam-se então os corações
O sangue pulsa
O amor impulsa
A dança começa

Um passo pra lá
Dois pra cá
Num ritmo em transe.
Na transa,
Um Louco
Dois loucos
Translúcidos, - tornados,
[Até que se cansem de tocar]

A música para
O trânsito libera
O salão esvazia-se em noite de prazer

A dança para
O amor permanece
E ai de mim
E de quem padece
De amor em transe
E depois se esquece

Entrelaçam-se, por fim, os olhares
A música volta
A dança recomeça
O amor...
Ah, o amor!
- Olhos de ressaca
Buracos semi-abertos
Suor escorrendo pelo corpo:

Uma verdadeira dança em transe.

Daniela Dino

Oração ao Pai I

Pai, tu que me puseste no mundo
E de mim fizeste teu mundo
Dai-me sabedoria
Pra que eu possa ser humana
Mundana
- e docemente fria
Tu que a terra me deste pra nascer
Que dos campos me fizeste florescer
Dai-me frieza
Pra que eu possa ser gente
Coerente
- e humildemente sábia em franqueza.
Ó Pai,
Tu que do que céu refletiste o mar
E das estrelas os peixes a nadar
Dai-me paz-ciência,
Pra que eu possa juntar a razão da emoção
O equilíbrio do coração
- e conquistar minha paz, minha ciência, minha paciência e vivência.
Dai-me, também, Pai
Um pouco de ti
Pra que eu possa ser tua
Ser sábia
Ser fria
Nua
Águia
E voar pelo céus em busca de liberdade!
Ser leve como um pássaro
Feliz como a verdade.

Daniela Dino

Rosas

(aos meus pais amados)

Somos tuas rosas porque as rosas exalam amor
E em cores (de rosa ou de outra cor) 
florescem em vida nos teus dias
As rosas gritam sem voz
Em beijos
Abraços
As rosas cuidam dos passos
de um roseiral nas estações frias.
Somos tuas rosas.
Tuas rosas que cicatrizam as pétalas despedaçadas
Que enfeitam jardins
e rodeiam calçadas.


(As rosas não falam, apenas exalam)
E renascem em primaveras
E sorriem apaixonadas com sorrisos teus.
Somos botões
Botões de rosas que cabem na palma da mão
Que se perdem nas roseiras em tamanha grandeza
e rodeiam os canteiros do coração.
(As rosas não falam, mas amam)
E cantam tuas cantigas de ninar
Somos rosas que brilham
No teu céu, na tua terra, no teu mar.

Somos tuas rosas
e só tuas em teu jardim
Somos pedaços de amores
De 50 anos de flores
E de mil e uma noites sem fim.

"As rosas não falam,
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti"

Esse ultimo verso é de uma musica lindíssima de Cartola, e sintetiza a verdadeira mensagem desse poema. Somos as rosas, modéstia parte, isso é um fato. Mas nós rosas apenas exalamos o perfume que roubamos de vocês, do que aprendemos com vocês, do que vivemos com vocês. Parabéns pai e mãe! Quanto mais felizes vocês forem, mais rosas nós seremos.

Simples saberes

Que eu saiba ouvir
Ouvir como quem afaga os cantos dos pássaros
E vive em equilíbrio circense a vida.
Que, sendo amada, saiba amar
Como quem nega os dissabores
E sara com perdão as feridas.
Que eu saiba ser grande,
E encher-me pequena de humildade.
Que eu saiba gozar sorrisos
E colher de terreiros a sabedoria.
Alegre, que eu seja todo dia
E saiba arrancar o rancor do peito,
Fazendo da minha alma a mais garrida.
E que eu saiba cair
E no levantar ser rápida como o tempo
Que eu saiba sentir os mais diversos sentimentos
E em momentos fazer de mim a liberdade mais viril do céu
Que eu saiba ser criança
E esqueça de saber o gosto do fel.
Que eu saiba querer Deus
E rezar com os braços abertos
Por pedaços de mim que vivem do lado de fora, de dentro, de lá.
Que eu saiba ser sábia
Como um canto afinado e infinito de um sabiá.
Que eu saiba enxergar o mundo
Com os olhos de quem sabe tudo,
Mas de tudo não sabe nada.
Que eu saiba primeiro amar;
depois errante;
enfim amada.

Daniela Dino

Ser em poucas palavras

Sou como um caco de vidro no chão.
Já fui inteira.
Hoje nada me quebra mais.
Sou como um grão de areia
Já fui mar.
Hoje sou artesanato, arquitetura até.
Sou como uma gota d'água
Já fui chuva.
Mas não escorro mais em lágrimas.
Sou como um pedaço de vento
Já fui desastre
Hoje sou brisa tranquila, - ou turbulenta, truculenta, diria.
Sou como um pedaço de céu
Já fui vazio
Hoje sou constelação.
Sou como um ser abençoado
Já fui descrente
Hoje dou graças ao Pai amado.
Sou como um pedaço de tudo
Já fui vazio
Nada
Ninguém
Hoje sou Deus e o mundo!

Daniela Dino

Amor-amor

Amor é vicio
É ópio
É rio de lágrimas e sorrisos.
Amor é ódio
Amor é coração em mente
- com certeza, sem razão.
Amor é triste
(só quando cansado)
É feliz mesmo bastardo
É amor amado e gritante.
Amor de mundo é amor gigante
Amor falado é amor amante,
Ou amador, quem sabe?
Amor calado é secreto
É vivo
E não morre de fato, e nem de feto.
Amor é droga
Corre nas veias
E queima na pele..
É sonho, é silêncio, é amor de plebe
Amor pobre de tempo, rico de essência
Amor pobre de chance, rico de vontade
Amor pobre de voz, rico de eco.
Amor é amor mesmo com saudade
Amor é amor quando só tem bondade
É amor a respiração quieta da madrugada.
É amor a alma bêbada e a paz armada.
E a voz calada também amor,
também se faz amor, também se faz amada.

Amor é vício
É ópio
É rio de lágrimas e sorriso.

Daniela Dino

Canto dificil de ler, fácil de ouvir

Me encanto enquanto
olho esse canto.
E conto cantos
encantados,
quando, encantada,
ouço os cantos
desse conto.
E enquanto encantam
meu tempo contado,
conto quantos
cantos aqui são cantados.
Enquanto conto quantos
contos são encontrados,
me encanto ainda mais
com teu céu encantado.
Tanto quanto.
Tanto quando.
Tanto canto.
Pois conto cantando os quandos de teu encanto.

Daniela Dino

Fiz essa poesia em homenagem ao novo blog de uma amiga: www.omeuencantomeucanto.blogspot.com, é um lugar onde se pode apreciar a beleza do céu de Brasília de qualquer lugar do mundo. Além disso, gostaria de aproveitar o momento para parabenizá-la pelo dia de hoje, quando completa mais um ano de vida e de cantos (de encantos também). Tudo de bom pra você, lisinha! Um beijo grande, amiga! Espero que goste! S2 - A Elisa Bermudez