quinta-feira, 29 de maio de 2014

Outono-inverno




Esperam o frio do inverno as plantas semi-mortas ao relento
Tudo passa
Exceto o tempo de florir
- Eis o tempo seco do cerrado; úmido de tantos e tontos sorrisos meus.

Daniela Dino

REVIVER - São Luís

São Luís, onde foi parar teu cheiro de terra molhada?
Onde foram parar teus becos e ruas de sobrados lisboetas?
Onde foram parar tua maresia, tua cor, tua vida?

Agora deste pra andar alagada por todos os cantos
Carros atropelando o tempo de quem corre contra o tempo todos os dias

A serpente que te assombra hoje, e há tanto tempo, eu diria
Tem nome e sobrenome
Tem casa, tem saúde, não passa fome.
Tem resquícios vivos de oligarquia.

São Luís, onde foi parar tua sanidade?
Onde foi parar tua poesia?
Onde foram parar os Leões tão bravamente fiéis, agora corrompidos, de teu palácio?

Agora deste pra ser terra improdutiva
Te falta amor, te falta água, te falta compaixão

A serpente que ronda teu subterrâneo já sugou todo o teu suor árduo de mais de 4 séculos de história
Ou 50 anos de solidão
Contamina teu solo
Circunda toda ilha com o objetivo central de sua cabeça:
Afundar a Jamaica Brasileira

Isolada, és Ilha do amor
Esquecida, és Ilha do amor
Abandonada, és Ilha do amor!

São Luís, onde foram parar os escritos de teu Gullar?
Onde foi parar teu magnetismo?
Onde foram parar teus sonhos, tua beleza tão pura, tua simplicidade tão exorbitante?

A serpente que corre por tuas esquinas
Não pode sugar teu sangue
Não pode sugar tua alma
Não pode sugar tua intrínseca, tímida, escondida vontade de ser Praia Grande
Tua saudade de ser Ilha do Amor
Tua necessidade de se(r) REVIVER

Daniela Dino
-
A minha cidade amada, que precisa de cuidados, de administração, de saúde, de segurança pública, de saneamento básico, de água, de comida. A minha cidade amada, tão bela, tão rica, tão fértil. A minha cidade amada, que representa todo um estado dilacerado, minha saudade, meu amor, meu desejo de REVIVER!
 

Céu e (a)mar



Céu e (a)mar


Sendo céu ou mar
Queria poder te ter todo meu
E, sozinha, ser só tua
Afogar minhas mágoas nas tuas ondas
Contar meus sorrisos nas tuas tantas estrelas-do-mar

Queria saber esquecer meu egoísmo de querer-te só pra mim
Entender que tua beleza é ser universo
Manter-se singular no plural e no verso
E saber ser apenas meu no meu olhar

Nos outros tantos olhos que te querem
Sabes ser minha alvorada
Meu eu externo,
Meu céu eterno
Minha cura quieta da paz armada

Tens um contraste que me faz te (a)mar:
Sabes ter cor e ser escuro
Sabes trazer impurezas e ar puro
Sabes ser meu abismo, meu desgaste, meu sorriso
Meu infinito terreamente particular

Daniela Dino

Oração ao Pai II

Me ilumina, Pai
Que eu, tão pequena, quero tua luz
Que eu floresça enquanto cresce em mim
A vontade de ser ser pássaro
E desse tanto (vo)ar que me seduz

Me ilumina, Pai
Que eu quero ser luz que ilumina a Terra
Queria ter luz pra tirar a fome do mundo;
Aquecer o frio;
Acabar com a guerra.

Me ilumina, Pai
Que eu quero ser fonte de água e viveres
Quero ser parte dessa libertinagem
Quero vertigem de felicidade
Quero vestígios de tantos quereres

Me ilumina, Pai
Que eu quero tua luz
Quero teus passos,
teus caminhos, teus traços
Tua proteção que me guia,
Teu querer que me conduz

Daniela Dino

Mãe


Ser mãe é ser flor
Ser filho é ser fruto
Ser mãe é ter cheiro de jardins,
roseirais,
canteiros coloridos,
em cantos de ruas floridos,
em perfumes de frascos vitais.

Uns frascos são lírios
Símbolo da pureza e da Virgem Maria
Protegem com o perfume seus filhos
Enobrecem com amor o dia-a-dia

Outros frascos são Orquídeas
Grandiosas, mas simples
Florescem cheias de cor, fascínio e sabedoria.
Em família, orquidários, dão mais vida ao dia-a-dia

Há, também, os frascos de Angélica
"Anjo e flor juntamente"
A mais perfumada em visão de vida coerente
A mais flor dos perfumes em harmonia
A mais mãe [mesmo antes do fruto ser gente]
A mais anjo/protetora do dia-a-dia

Agora, os frascos de Tulipa
De apelido "Amor Perfeito"
As mais admiradas no mundo
- Quem diria!
Cores resultantes de um feito bem feito
De um amor pelos filhos, que bate forte no peito,
De uma singularidade encantadora no dia-a-dia

Por fim, os frascos de Rosa
A flor-mãe, a flor-rainha
As mais sensíveis, cuidadoras
Protetoras dos espinhos da vida.
Cheiro de mãe, de avó, de tia
Flor com gosto de amor,
Com cheiro de cafuné,
Com presença [mesmo que ausente] no dia-a-dia

Daniela Dino
--

A minha mãe é um pouco de cada flor, e um muito de todos os frascos perfumados do mundo. Feliz por poder ser fruto de um frasco tão maravilhoso! Feliz por poder ser, um dia, também flor. Feliz por ter em mim a semente de cada uma dessas flores na foto. Tenho várias mães. Mas duas são únicas: a boa Mãe Maria e minha Rosa Sandra Dino, meu Flamboyant, erquido e florido, de todos os "dia-a-dia."

Relato de uma menina de 12 anos

Mal pude ver de onde vinha aquela escuridão
Apenas fechei os olhos
(Como se pudesse dormir)
E senti arder a pele e doer a alma

Vi que os chutes eram covardes
Mas a covardia maior estava nos olhos, 
nas risadas, 
nos cantos de boca sujos, como o meu:
Em mim, escorria sangue
Nos seus sorrisos, tão ousados, veneno.

Vi as luzes dos carros passando
E, ainda frágil, lembrei de minha mãe cantando pra eu dormir à meia luz de um quarto vazio

[...]

A dor continuava.

Puxavam meu cabelo como se fosse um pedaço de pão
Mas ali não havia fome de comida.
Havia fome de vida.
Eu calada, querendo um gole de bebida
Minha alma gritando, querendo calar minha ferida
Meus olhos,
ainda fechados,
Tentando, em vão,
por vezes chorando,
proteger meu coração.

Daniela Dino
-

Queria eu ter mais empatia pra conseguir relatar a cena que vi hoje. Me senti impotente (como poucas vezes me senti na vida). Vindo pra casa, vejo um grupo de 10 meninos e meninas, de aproximadamente 13 anos, batendo numa menina de uns 11 anos. Fiquei sem reação. Tentei ligar pra polícia, não consegui. Tentei ligar pra um amigo policial, também não consegui. E permaneci impotente, na inércia, sem saber o que fazer. Cenas como essa são cada vez mais frequentes na sociedade atual, mas, de fato, não podemos fechar os olhos pra isso como se nada tivesse acontecendo, como se fosse natural uma menina gritando, sozinha, com outros tantos meninos e meninas, covardes, puxando seu cabelo, a jogando no chão, chutando suas pernas... Acho que me senti mais impotente que a própria menina, porém, com certeza, não mais frágil, nem mais sozinha. Queria ter conseguido ajudá-la, mas falhei, travei, não soube como. Mas peço as energias e orações de vocês pra que essas pessoas vítimas de violência (em todas suas diversas formas) sejam iluminadas e protegidas nos seus dias. Peço do fundo do meu coração.

Quando a saudade é silêncio

[mais uma de Joana]

O mais difícil do meu silêncio
É não te ouvir
Ou então a saudade que engulo seca
De tua voz trêmula
Coberta 
[eu, descoberta] 
Com sorriso blasé.

Mas meu silêncio ind'é inquieto
Tem vazio de concreto
E um som que ecoa e faz meu sorriso se manter.

Acho que meu silêncio é maior do que o amor pelo qual eu clamo
Tenho ouvido músicas, pássaros, pessoas
Mas tenho sentido falta:
E é desse silêncio que tanto reclamo.
Ainda que eu saiba que teu amor 'inda é meu
E ainda que sejamos Joana, Julieta e Romeu
Tenho silêncio de ouvir teu sorriso
Tenho silêncio de ouvir teu te amo.

Daniela Dino

Flor de Lis(boa)


Flor de Lis(boa)


Por entre sobrados e becos sem saída
Os azulejos portugueses dão vida à cidade
Pouco ouro, muita riqueza
E o cheiro de orvalho matinal no fim de tarde

Flor do lácio, és flor de lis
Tens o boa de terra fértil: inculta e bela
Lisboa, meu pedaço europeu de São Luís
Meu relicário de tinta fresca e aquarela

Casarões e paixões como Pessoa;
Cenário bucólico do fado farto dos fadistas
Ruas de pedras (desgastadas e saudosistas)
És um porto, um desporto, uma (lis)boa

És flor de lis,
Leal e soberana
E de corpo e alma tens pureza
És, ainda, minha fonte, minha origem, minha matriz
Meu (en)canto maranhense em terra firme portuguesa

Daniela Dino

Ao céu de Brasília

Dizem que és mar,
Imensidão,
Dá até pra ver, de longe, tuas ondas se formando,
Se quebrando em cores sinuosas nas tuas nuvens cristalinas

Cada linha com um pouco de espuma salina
E o vento levando as nuvens, como se correnteza fossem, por teus horizontes

E o que mais te faz mar é tua brisa
Que, embora, seca, se confunde com maresia:
Tens o mesmo dom de encantar,
O dom de fazer-me pensar nos mais belos dos poemas sobre (a)mar

- No mais colorido dos crepúsculos, aguardar por teu brilho estrelado,
Pela manhã, nos versos da alvorada,
[Amante-amor-amado]
novamente te encontrar.

Daniela Dino
-

Lúcio Costa, grande pensador do projeto urbanístico dessa cidade, dizia que "o céu é o mar de Brasília". Concordo plenamente. Mas acrescento: pra mim, o céu é o AMAR de Brasília, paixão de todos que aqui vivem, amor de todos que tem o prazer de ver e conviver com tamanha beleza

Ombros (des)cansados

Quando teus olhos se fecham
O dia corre por tuas artérias e veias
E teus ombros cansados funcionam como cadeias
Em que teus medos se aprisionam
e atacam tua paz.

No pés, já frios,
A última dormência antes de adormeceres
Nas mãos, dormentes,
A última frieza que impede teus quereres.

E o fundo dos olhos se abrem
Vão de encontro a ti.
E teus ombros cansados libertam teus medos
E teus pés, gelados, esquentam teus dedos
E tuas mãos, dormentes, acordam:

Seguram tua mente,
Aquecem teus sonhos
Descansam tua alma.

Daniela Dino