quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Há tempos

Há quanto tempo não te escrevo, menina
Há quanto tempo não penso em ti.
Minha Morena, minha Joana, minha Saudade.
Há quanto tempo não te leio nos frívolos
Encartes de uma sapataria qualquer da Zona Sul.
Há quanto tempo não sou tu.
Não te desenho.
Não te poetizo.
Não te temporizo por falta de tempo.

Nesse meio tempo já vi o mar
Subi o morro
Sambei.
Fui mãe de santo
Iemanjá
Em terras de calcário
fui rei.

É tempo novo.
Tempo de vida.
De morena.
De saudade de Joana.
É tempo novo.
De ano novo...
De liberdade em noite serrana.

Lá fora chove, morena
Aqui te amo soberana.
Lá fora vives e me perguntas serena:
“Qual o tamanho de tua grandeza, Joana?”

Visão 1994, à Vinícius

Meus olhos são pequenos para ver

teus primeiros passos meio bambos

por sobre teus risos, candura

esperando a passagem de tua vida

Meus olhos são pequenos para ver
crescer no mundo nós dois
e os olhos no tempo, pairados,

ou o escuro de um gato mia à meia luz

Meus olhos são pequenos para ver
teu pouco muito tamanho

e o tempo que passou comparado
ao teu pouco muito tempo de banho

Meus olhos são pequenos para ver
as pinturas do passado colorindo
paredes a eternizarem poesia
aonde tinham crianças sorrindo

espalhadas pela casa
como arte em galeria

Meus olhos são pequenos para ver
o baú de brinquedos, brincadeiras,
de carrinhos, de adedonhas, de vassouras
e varinhas feitas de palmeiras

Meus olhos são pequenos para ver
nascer em beijos e abraços

um só
[éramos um, dois, três]
meia
e
já.
Meus olhos são pequenos para nos ver separados.

Meus olhos são pequenos para ver
tua vida reluzir no mundo
mal cabe em olhar profundo
ou nesse mundo vagabundo

Meus olhos são pequenos para ver
tua infinita grandeza
e os jogos de war e detetive
espalhados pelo chão e pela mesa

Meus olhos são pequenos para ver
tabuleiros de xadrez
e histórias da pata em fita cassete
contando sempre “Era uma vez...”

Meus olhos são pequenos para ver
meu amor. 

No mundo não há olhos que enxerguem 

o que só o alma pode SER.

Amor não se vê. 

[Amor se é.] 

E eu sou tu,
como se tua vida pudesse viver.

Meus olhos são pequenos para ver
tua vida que se esvai em terra e vento
outra vida minha, qual nelumbo
- mas veem, pasmam, sorriem deslumbrados.

Meus olhos são pequenos para ver
teus 18 anos, 

E menores ainda pro quanto

Eu te amo.

Pequenos, meu irmão.
Mas cheios de amor.

Daniela Dino