quinta-feira, 29 de maio de 2014

Relato de uma menina de 12 anos

Mal pude ver de onde vinha aquela escuridão
Apenas fechei os olhos
(Como se pudesse dormir)
E senti arder a pele e doer a alma

Vi que os chutes eram covardes
Mas a covardia maior estava nos olhos, 
nas risadas, 
nos cantos de boca sujos, como o meu:
Em mim, escorria sangue
Nos seus sorrisos, tão ousados, veneno.

Vi as luzes dos carros passando
E, ainda frágil, lembrei de minha mãe cantando pra eu dormir à meia luz de um quarto vazio

[...]

A dor continuava.

Puxavam meu cabelo como se fosse um pedaço de pão
Mas ali não havia fome de comida.
Havia fome de vida.
Eu calada, querendo um gole de bebida
Minha alma gritando, querendo calar minha ferida
Meus olhos,
ainda fechados,
Tentando, em vão,
por vezes chorando,
proteger meu coração.

Daniela Dino
-

Queria eu ter mais empatia pra conseguir relatar a cena que vi hoje. Me senti impotente (como poucas vezes me senti na vida). Vindo pra casa, vejo um grupo de 10 meninos e meninas, de aproximadamente 13 anos, batendo numa menina de uns 11 anos. Fiquei sem reação. Tentei ligar pra polícia, não consegui. Tentei ligar pra um amigo policial, também não consegui. E permaneci impotente, na inércia, sem saber o que fazer. Cenas como essa são cada vez mais frequentes na sociedade atual, mas, de fato, não podemos fechar os olhos pra isso como se nada tivesse acontecendo, como se fosse natural uma menina gritando, sozinha, com outros tantos meninos e meninas, covardes, puxando seu cabelo, a jogando no chão, chutando suas pernas... Acho que me senti mais impotente que a própria menina, porém, com certeza, não mais frágil, nem mais sozinha. Queria ter conseguido ajudá-la, mas falhei, travei, não soube como. Mas peço as energias e orações de vocês pra que essas pessoas vítimas de violência (em todas suas diversas formas) sejam iluminadas e protegidas nos seus dias. Peço do fundo do meu coração.

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