terça-feira, 5 de novembro de 2013

O samba


O samba é todo feito do povo
Uma arte
Um compasso
Um morro
Um ritmo
Um sopro
Uma roda viva

[Roda mundo
Roda gigante
Roda moinho
Roda de samba]

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Rio

( à Bárbara, minha amiga do coração)

Rio contigo
Porque sou rio de alegria
Quando vejo teu mar
Nos olhos, na alma, no riso.
Rio contigo
Porque sou rio de paz
Quando vejo teu céu
Nos lábios, no rosto, no coração.
Rio contigo
Porque sou rio de vida
Quando vejo teu encanto
No teu canto, na tua pele, no teu falar.
Rio contigo
Porque sou rio que deságua em mar
Quando vejo tua calma
Na tua voz, no teu agir, no teu cantar.
Rio contigo
Porque sou Rio de Janeiro
Quando vejo tua beleza
Nos teus cabelos, no teu Ipanema, no teu andar.
Rio contigo
Porque sou rio de risos
No teu sorriso, na tua amizade, no teu amar

Te admiro por tua força
E quase morro de fraqueza
Por saber que sem ti não vivo.
E fecho os olhos
Quando o amor ativo,
Quando me cego e sou pura franqueza,
Quando feliz convivo
com a infinita grandeza 
tua.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Lua

A lua
Tão nua
Tão crua
Tão tua
Parece então pairar no ar

Na calada da noite ela se faz só
sob o olhar deserto de quem a alcança.
Sob os sonhos de nuvens quando criança
Ela desfaz o nó,
o nó da garganta, da mente altruísta
Do turista que visita teu céu estrelado,
Ó lua equilibrista!
Tão fria
Tão cheia
Tão pura flutua, - ó lua!

E se pisco os olhos meus
Pareço perder teus segundos de encanto
Padeço no escuro sem teu canto
E perco-me nos reflexos teus
Por fim,
Aqueço minh'alma em teu manto.


E pairo contigo pelo ar.
Desvio pra te ter em meu foco
E penso em disfarçá-lo, marejado,
Sem querer ser teu mar
Pra que possa então te ver
Te tocar
E quem sabe um dia, feliz então,
Te sonhar.

Ó lua intocável,
Desce aqui e beija-me fria com teu calar das noites
Desce mansa, com teu manto,
E cala as feridas do mundo de açoites.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Me basto


Eu me basto.
O bastante pra todo o mundo vasto.
O necessário pra vida que arrasto.

Eu me basto.
Me basto como quem gosta de viver
E, loucamente, vive de querer
Me basto no eu, no mim, no ser.

Me basto porque a vida é minha
Porque convivo com todos,
Mas vivo sozinha.
Porque vivo secreta
E sou o que tinha.

Eu me basto.
Me basto porque meu eu é feito dos outros. 
Porque sou gente, tangente, agente da vida.
Porque sou eu, sozinha, 
e a gente - viva e unida.

Me basto porque meu EU é plural.
Porque meu EU é todo mundo.
É natureza, é natural.
Me basto por ser provérbio-nominal/pronome-verbal.
Me basto por isso, por aquilo.
Por bastar-me de ser viva, 
e levemente imortal.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Vandalismo

Vandalismo é a fome diária
É falta de saneamento básico,
a ausência de reforma agrária.
Vandalismo é a violência urbana
A inflação absurda no preço
da carne, tomate e banana.
É também o povo sem teto,
A vida constante perigo
Saúde virando concreto.

Vandalismo é a falta de educação
A manipulação da mídia
E a inescrupulosa e ardente corrupção.

Vandalismo é a destruição do patrimônio do povo
É a ação militar, judiciária e legislativa
(e a história que, tristemente, se passa de novo)

Vandalismo é a morte diária de gente inocente
É a vergonha do salário pago ao corpo docente.
É a falta de uma qualidade de vida decente.

Vandalismo é, nos sonhos, a falta de poesia
No real, o excesso de utopia
Nos olhos, astigmatismo, cegueira, miopia.

Vandalismo é coisa do cotidiano
praticada, todo dia, por homens sérios
como Sarney, Arruda, Feliciano.

Vandalismo é a desigualdade social
a discriminação racial
o desrespeito à diferença pessoal.

É, também, homofobia
É a falta de moradia
A matança radical e impiedosa de alegria.

Vandalismo é a cobrança alta de impostos
O luxo do lixo (detentores de poder)
A vida do povo lançada em destroços!

Vandalismo é coisa atual,
mas também antiga e duradoura.
Vandalismo pode ser essencial.
É coisa que destrói e constrói lavoura.

Daniela Dino

- Não que eu defenda outras formas de vandalismo (aliás, nem sei se tenho uma opinião concreta sobre isso), mas o fato é que existem vandalismo bem mais danosos ao patrimônio público que não são tratados como tais, e é exatamente o que expresso, indignada, no poema acima.

Amor à pátria

Minha pátria tá perdida
Ou cega,
Ou assassinada.

Pelas ruas tiros,
Pelas pontes fome,
Pelos becos craque.
Pelos palácios luxo,
Pelos rios lixo,
Pelos poderes ataque.

Minha pátria tá sofrida,
A casa caindo,
O dinheiro sumindo,
E o povo clamando por vida.

Pelos corruptos sorriso,
Pelos cidadãos martírio
Pelos empresários artifícios.
Pelos políticos audácia,
Pelos abastados cegueira,
Pelos bastardos sacrifícios.

Minha pátria tá esquecida
Ou então invertida
Como se poder fosse amor à pátria.
Minha pátria - tão querida,
Tem deixado de ser amada,
De ser vida, vivida, idolatrada.

O amor à pátria virou (des)amor próprio
- aquele velho vício em ópio
E vontade de corromper o povo,
de tornar-se imoral,
de ser (e viver) impróprio.

Minha pátria amada, idolatrada,
fora assassinada.
É o que acontece quando a justiça (cega) deixa de enxergar igualdade,
E passa a não ver mais nada.

Minha pátria tá perdida.

[...]

Ou cega.

[...]

Ou morta.

Mas tá cada dia mais viva.
Mais amada.
Mais ídolo-atrasada.
Salve, salve.
 

Daniela Dino

Amor rima o com que?

No meu mundo com de um tudo
Amor rima com vida
Com coração de veludo
e vestido (travestido) de cetim
Amor rima com alma
E com rosas no jardim.

O amor aqui costuma rimar com sorriso
Rima às vezes com improviso
E até quando preciso
Rima com coisa ruim
O amor rima com mudanças
Com alianças
Até que venha o estopim.

O amor, bailarino, rima com dança
E tem um pouco de poesia também
O amor, eterno, rima com lembrança
Criança
Semelhança (diferença)
Confiança
E com outras virtudes que o amor convém.

O amor rima com distância
Apesar de não merecê-la quando vem
O amor rima com instância
E rima com Deus! Graças à Deus e Amém!

O amor rima com rima
Com trocadilhos
Com pé-de-laranja-lima.
O amor dos pais rima com filhos
O de casais com o de irmãos
O de amigos com desconhecidos e etc e tal...

E agora, um nível acima,
Já dizia meu amigo
E repitamos em voz alta:
"O AMOR É PLURAL"

Daniela Dino

SOBREVIVER CONVIVENDO

Vim falar sobre-VIVER
Sobre viver além da chuva
Além de cortinas que fecham a vida.
Sombras, sobras, sombrinha
Sobre viver, e viver sozinha
E viver em companhia
E sobre viver às tortas migalhas,
à sobrevida, à sub-vida e às falhas.
Subjugar a sobreposição das massas
E viver sobre o monte de traças.
Além daqui, dali, das taças
De vinhos, cervejas e cachaças.
E viver além das aparências
Sobre viver perdendo as pendências
Sobre viver a sóbria vida de carências
E viver, além da vida, as urgências.

Vim falar de como-VIVER
De como viver além do sol
(Con)viver com o frio, sem comida e lençol.
De como viver às tortas migalhas
E comer a sobreposição de lixo das massas
E comer da vida o monte de traças
Além daqui, dali, das taças
Como viver de vinhos, cervejas e cachaças.
Viver aquém das aparências
À base de pendências
E como viver a sóbria vida de carências
E não viver além da vida,
da sub-vida (do sub-humano)
e das urgências.

Com(o) viver, sobrevivendo
sobre viver convivendo.

Daniela Dino

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

1 ano de saudade

Certa vez fincaram-te uma faca
Do peito escorria teu sangue
Em lágrimas de cor opaca
Da boca gritos de uma alma fraca
Da pele a fragilidade mórbida da perda trágica

Agora te libertam da ponta aguda no  corte
E tua pele em carne viva sente a morte
E teus olhos pasmos borbulham forte
Clamando por encontrar quem conforte
a saudade.

E hoje dói como doía ontem, no último verão
Os lados da pele soltos pelo chão
O sangue da noite correndo em vão
E a saudade...?
Ela, ele e a faca no coração.

Uma faca de verão.

Daniela Dino

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Quanto tempo dura o luto?

O luto dura o tempo de uma luta contra a dor da saudade.
O luto dura o tempo da eternidade.

O luto dura o tempo de um amor bêbado, solto pela noite.
O luto dura o tempo de uma marca vazia e eterna de um açoite.

O luto dura o tempo das estações,
O luto dura as primaveras, invernos, verões.

O luto dura o tempo da seca no cerrado
O luto dura o tempo de um sentimento morto e amordaçado.

O luto dura o tempo de uma vista escura
O luto dura o tempo de uma fruta madura.

O luto dura o tempo de um telefonema às antigas
O luto dura o tempo de criança cantar cantigas.

O luto dura o tempo de uma rasa cicatriz
O luto dura o tempo de fazer renascer uma flor de lis.

O luto dura o tempo de uma partida de futebol
O luto dura o tempo de um cronômetro mongol.

O luto dura o tempo do falso costume
O luto dura o tempo da luz de um vaga-lume.

O luto dura o tempo dos teus sonhos em fevereiro
O luto dura o tempo de um almirante virar marinheiro.

O luto dura o tempo de um samba em carnaval
O luto dura o tempo de um trovão em temporal.

O luto dura o tempo de se recompor
O tempo do dissabor
O tempo do sol se pôr...

Aqui são os Versos da Alvarada...
O luto é duro, mas passa!!

- Depois de tanto tempo, a dureza vira amor!
 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Há tempos

Há quanto tempo não te escrevo, menina
Há quanto tempo não penso em ti.
Minha Morena, minha Joana, minha Saudade.
Há quanto tempo não te leio nos frívolos
Encartes de uma sapataria qualquer da Zona Sul.
Há quanto tempo não sou tu.
Não te desenho.
Não te poetizo.
Não te temporizo por falta de tempo.

Nesse meio tempo já vi o mar
Subi o morro
Sambei.
Fui mãe de santo
Iemanjá
Em terras de calcário
fui rei.

É tempo novo.
Tempo de vida.
De morena.
De saudade de Joana.
É tempo novo.
De ano novo...
De liberdade em noite serrana.

Lá fora chove, morena
Aqui te amo soberana.
Lá fora vives e me perguntas serena:
“Qual o tamanho de tua grandeza, Joana?”

Visão 1994, à Vinícius

Meus olhos são pequenos para ver

teus primeiros passos meio bambos

por sobre teus risos, candura

esperando a passagem de tua vida

Meus olhos são pequenos para ver
crescer no mundo nós dois
e os olhos no tempo, pairados,

ou o escuro de um gato mia à meia luz

Meus olhos são pequenos para ver
teu pouco muito tamanho

e o tempo que passou comparado
ao teu pouco muito tempo de banho

Meus olhos são pequenos para ver
as pinturas do passado colorindo
paredes a eternizarem poesia
aonde tinham crianças sorrindo

espalhadas pela casa
como arte em galeria

Meus olhos são pequenos para ver
o baú de brinquedos, brincadeiras,
de carrinhos, de adedonhas, de vassouras
e varinhas feitas de palmeiras

Meus olhos são pequenos para ver
nascer em beijos e abraços

um só
[éramos um, dois, três]
meia
e
já.
Meus olhos são pequenos para nos ver separados.

Meus olhos são pequenos para ver
tua vida reluzir no mundo
mal cabe em olhar profundo
ou nesse mundo vagabundo

Meus olhos são pequenos para ver
tua infinita grandeza
e os jogos de war e detetive
espalhados pelo chão e pela mesa

Meus olhos são pequenos para ver
tabuleiros de xadrez
e histórias da pata em fita cassete
contando sempre “Era uma vez...”

Meus olhos são pequenos para ver
meu amor. 

No mundo não há olhos que enxerguem 

o que só o alma pode SER.

Amor não se vê. 

[Amor se é.] 

E eu sou tu,
como se tua vida pudesse viver.

Meus olhos são pequenos para ver
tua vida que se esvai em terra e vento
outra vida minha, qual nelumbo
- mas veem, pasmam, sorriem deslumbrados.

Meus olhos são pequenos para ver
teus 18 anos, 

E menores ainda pro quanto

Eu te amo.

Pequenos, meu irmão.
Mas cheios de amor.

Daniela Dino