terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

5 anos de saudade (e lembranças)

Me lembro bem do teu rosto
Das tuas covinhas, do teu gosto
Lembro dos teus sonhos, lembro dos teus medos
Lembro do peso leve, da tua leveza, até da voz eu lembro
Era suave, voz de anjo
Lembro do teu jeito de sentar à mesa
Das tuas brincadeiras e provocações de defesa
Lembro das tuas roupas, tua vaidade
De quando nem parecia ter diferença de idade
Lembro do teu grito, das tuas cicatrizes e feridas
Lembro de todas tuas comidas preferidas
Lembro do teu jeito menino, das tuas frescuras,
Lembro da porta do banheiro entreaberta em noites escuras
Lembro da tua preguiça, da tua timidez
Lembro das parcerias em duplas de xadrez
Lembro do teu carinho, teu jeito quieto
E da tua maneira de demonstrar afeto
Lembro da tua corrida pro mar
Lembro dos teus passos, teu jeito de andar
Lembro do teu cabelo, da tua cor
Lembro de te procurar por onde for
Lembro de todos os dias
Da nostalgia solta no ar
Lembro de ti todos os dias
E da saudade que me faz de ti lembrar
-
Não tem um dia que não me lembre de ti de alguma forma... Tu estás em tudo de lindo nesse mundo, em cada detalhe, em cada força e pensamento. És meu pedaço de céu, meu anjo protetor, meu telinho!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

João


João, ainda no colégio,
já quase entendia como a vida funcionava
Não que a compreendesse realmente (e alguém já a compreendeu?)
Mas porque desconfiava,
sabia que a ordem não era assim tão natural
Porque era curioso, suas perguntas despertavam um sentimento confuso
Assim,
Meio de admiração,
meio de perplexidade.
"Fica quieto, João!
senão chamo a diretora!"
Ele se chateava.
Mas porque era vívido,
logo estava fazendo alguém sorrir
E porque era antídoto,
esse sorriso logo se misturava com o seu
Não esquecia aquele cínico.
"Por que o professor não me respondeu?"
Mas porque era único,
sabia que um dia ele alcançava
E se tinha dúvida,
sabia que ia descobrir por si só.
João - isso ele ainda não sabia -
tinha muito privilégio
Não tinha lá muita coisa pro almoço
Nem tinha bola, ou violão (essas coisas de menino de escola)
Mas João tinha amor
E, porque amava, vivia
Era feito de memórias e ausências vestidas
Tinha saudades que nem mesmo conhecia
E sonhava com amores, não camas vazias
João questionava cada coração calado
Mas, sendo assim, também era questionado
"João, e as namoradinhas?"
Em qualquer canto, sempre tem aquela tia
João tinha várias, sem respostas - nem pra suas próprias questões ele tinha
Mas o porquê do plural ele não entendia
João não queria várias, nem inhas
Queria alguém que acompanhasse suas dúvidas
E o instigasse com a curiosidade que ele tem por um olhar arraigado
Ou por aqueles efêmeros, que fogem do encontro,
sem rumo ou qualquer nitidez.
"Que graça que vê nisso? Bora zuar!"
Ele ria.
Perdia menos energia assim,
que tentando levar à juventude
o que, há tempos, se perdeu por aí
Ria pra não ter que lidar com dissabor
Ou com a falta de virtude
daqueles que não vêm amor em olhares e abismos
Abismos de amor mesmo, ele dizia
João gostava de aventura
Não se prendia ao chão porque liberdade é voar
Sempre achou muito óbvio andar por linhas retas
E gostava da vertigem que dava a sinuosidade das curvas
Era desafiador, não gostava de andar em círculos
E sempre fechou ciclos
João era começo e recomeço
De erros que se erguem em futuros acertos
De libertinagem que insistia em perturbar
"João, tu perdeste o juízo?"
João nunca teve.
Mas o que mais importa nele há:
Vida e pão.
Tinha muito privilégio, não sabia.
Correu no abismo e voou.
"Volta, João!"
Calma...
Um dia ele volta Sabiá.

Daniela Dino e Tiago Dâmaso

(Primeiro poema em parceria, de muitas parcerias que virão dessa dupla)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Ansiedade não tem métrica


É tão difícil
abrir os olhos
Quando sequer
consegues fechá-los
para dormir
Não tem padrão
Não tem métrica
Mal respiras
Às vezes meditas
Tens insônias esquisitas
[...]
A ansiedade
te torna futuro
Quando na verdade
estás aqui.
--
Aos ansiosos de plantão, do século e da nossa geração! Que possamos entender que "estar aqui" é preciso, saber abrir e fechar os olhos também

Daniela Dino